terça-feira, 13 de novembro de 2007

clássico é clássico


Assim que o olivroestasobreamesa nasceu, o meu próprio marido disse: “vocês têm que ler logo os clássicos, porque não começam com Madame Bovary?” Além disso, quem já foi aluno dele e não leu o livro com certeza já escutou um sapinho. No começo do grupo optamos por não encarar esse desafio assim tão brutamente. O tempo passou e com quase dois anos de existência e um pouco mais de maturidade, resolvemos enfrentar o Flaubert e agora podemos dizer em alto em bom som “eu já li Madame Bovary”. E depois de ler eu bem vi que o Pani tem razão de brigar com quem nunca leu. Afinal, não foi à toa que um clássico virou clássico.
O livro conta a história de Emma Bovary, uma das personagens mais fascinantes da literatura mundial. Órfã de mãe e criada em um convento (que abandona por falta de vocação), Emma passa a infância e a adolescência mergulhada no mundo dos romances românticos. Ao conhecer o médico Charles Bovary, ela se enche de esperanças de viver uma vida de novidades e glamour. Porém, Charles, como diria meu amigo Thiaguinho, é um banana. Ele teve uma infância sem brilhos, uma adolescência insossa e uma vida adulta medíocre. De fato, ele não nasceu para se destacar em nada. Cresceu com o pai ausente e relapso e a mãe controlando cada passo dado. Depois de um casamento com uma viúva que não era lá grandes coisas e que ele nem gostava muito, Charles se encanta por Emma, filha de um de seus pacientes.
Pouco depois de enviuvar, o médico pede a mão da moça que aceita sem titubear. Mas já no dia do casamento, Emma começa a pensar se está fazendo a coisa certa. Demora só até a lua-de-mel para descobrir que não estava. Um dos problemas é que Charles é a personificação do tédio. A partir daí o livro começa a mostrar a personalidade dessa “heroína” que na minha opinião não é nem bipolar, é tão instável que chega a ser TRIpolar. Ela começa a tentar preencher de várias formas o vazio que sente, mas o buraco é mais fundo que ela pensa. Enfim, não vou falar mais senão acabo com todos os mistérios e suspenses do livro.
O que quero dizer é que a obra é demais. Para quem leu ou ainda vai ler, sugiro uma passadinha na biografia de Gustave Flaubert (1821-1880) porque é perceptível uma influência autobiográfica. O livro, que foi escrito lá no século XIX, transita por todo um mundo social da burguesia francesa. Tudo é criticado, inclusive a igreja católica e a política tomam bastante paulada. De acordo com a introdução da edição que eu li “Flaubert, que era um niilista, criticou a todos na sua obra-prima: interioranos e parisienses, homens e mulheres, apaixonados e céticos. Como indicou o crítico Émile Faguet: Havia em Flaubert um romântico que achava a realidade rasa demais, um realista que achava o romantismo vazio, um artista que achava os burgueses grotescos e um burguês que achava os artistas pretensiosos, tudo isso envolto por um misantropo que achava todos ridículos”.
Tenho que falar também que para mim o livro é um precursor da idéia feminista. Não posso afirmar que Emma Bovary é um símbolo do feminismo, porque ela não critica a situação em que a mulher vive, mas ela identifica que o ser mulher não é tão bom quanto o ser homem. São várias as passagens do livro que ela destaca que a vida da mulher não é tão boa quanto a dos homens. Um exemplo é quando nasce a filha, Berthe. Ela deixa claro que gostaria que fosse um menino porque ser mulher é muito triste.

Curiosidade – Quando o livro foi lançado em 1857, Flaubert foi processado pelo governo francês por ofensa à moral pública e religiosa. O autor foi inocentado e dedicou o livro ao cara que liderou o processo – Marie-Antoine-Jules Sénard. Nela Flaubert dizia: "Caro e ilustre amigo, permita-me inscrever o seu nome à frente deste livro e abaixo da dedicatória; pois é à sua pessoa, sobretudo, que devo a publicação do mesmo. Passando pela sua magnífica acusação, minha obra fez de mim mesmo uma inesperada autoridade. Aceite, então, a presente homenagem da minha gratidão que, por maior que possa ser, jamais estará à altura da sua eloqüência e da sua dedicação."
Uma coisa interessante que descobri ao escrever esse texto é que na hora que se coloca Madame Bovary no Google, aparece no item “Pesquisas relaci
onadas a:” os nomes Dom Casmurro, O crime do Padre Amaro e Dom Quixote. Ou seja, mas um motivo para eu dizer que clássico é clássico.

Nas telas - O livro teve várias adaptações para o cinema. A mais conhecida é a do diretor Claude Chabrol, filmado em 1991, com a atriz Isabelle Huppert. Foi essa mesmo que eu vi. É bom, pra aqueles que leram o livro. Por ser filme, o tempo dele é mais rápido do que o livro, o que diminui muito a angústia que sentimos junto com Emma ao ler as páginas da obra. Sem a agonia, o filme perde a essência de Madame Bovary. No livro, descobrimos uma Emma fascinante, no filme, a impressão não é bem essa. A fidelidade aos acontecimentos e diálogos é muito boa, mas não adianta, tem coisa que tem que ser lida mesmo. Depois de ler, vale a pena assistir. Antes, nem pensar.


Referência – Outro filme que assisti por causa de Madame Bovary foi o Pecados Íntimos (2006), dirigido por Todd Field. Esse eu vi, porque me disseram que a personagem principal Sarah (Kate Winslet, a menina do Titanic) participava de um grupo de leitura e uma das cenas era a discussão sobre o livro. A cena é boa, mas é o de menos. O filme é uma versão moderna de Madame Bovary. Sarah largou o doutorado para casar, ter filhos e cuidar da família em um dos subúrbios dos Estados Unidos. Mas a monotonia de uma vida “feliz”, suburbana e rica não consegue satisfazer a personagem e assim como Emma ela vai em busca de novas emoções.
Trailer de Pecados Íntimos: http://cinema.terra.com.br/videos/interna/0,,OI82229-EI1176,00.html

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

lágrimas com certeza...


Continuando a minha maratona de atualizações vamos falar de PIAF – Um hino ao amor. Quando teve a pré-estréia, meu chefe, que sabe que eu como filmes com farinha, me falou pra ir assistir. Isso já me deixou curiosa e foi uma decisão bem fácil ir ao cinema conhecer a história de Edith Piaf, por tudo que ela significa para o mundo. Eu nada sabia sobre a vida dela, só que era uma reconhecida cantora francesa, com uma puta voz, que cantava La vie em rose, L’Hymne à l’Amour e Non, je ne regrette rien. Música que por sinal todas as vezes que eu ouvia “Non! Rien de rien. Non! Je ne regrette rien. Ni le bien qu'on m'a fait...” eu me arrepiava dos pés a cabeça e não sabia muito bem de onde vinha toda a emoção que eu sentia. Ainda mais porque eu não falo nada de francês, ou seja, não sabia nem o que ela dizia. Agora, depois de conhecer a história de Edith e o que a canção significou na vida dela percebi que tinha toda a razão de me emocionar.
O filme conta de maneira muito interessante e envolvente a história dessa artista que ficou marcada nos anos 30, 40, 50... pra sempre. Dirigido por Olivier Dahan, ele aborda de forma não cronológica todos os aspectos da vida da cantora e usando mais de duas horas, que, honestamente, passam sem a gente nem sentir. Com uma vida muito complicada Edith se mostra uma verdadeira batalhadora, que aliando força e talento consegue alcançar o reconhecimento internacional. A vida dela envolve pobreza, abandono da mãe, parte da infância morando no bordel da avó, pai autoritário, morte de amores... várias, várias coisas ruins. É impressionante a vida que essa mulher teve. Além de todos os fatores externos, ainda tinha uma saúde muito frágil, talvez vinda da má alimentação e cuidados na infância. Fora as eventuais bebedeiras e vícios em morfina, que também contribuíram para sua morte aos 47 anos.
Enfim, o filme para mim é uma obra-prima. E vale muito, muito destacar a atuação da atriz francesa Marion Cotillard. Ela interpreta Edith em várias fases da vida adulta e o faz brilhantemente. É impressionante como ela consegue colocar toda a carga emocional da trajetória da atriz em seus gestos e palavras. Se Hollywood não fosse daquele jeito, eles teriam que abrir uma exceção ano que vem para dar o Oscar de melhor atriz à uma francesa. O filme é de derramar lágrimas. Fiquei chorando, sem palavras, vidrada na tela por uns bons minutos depois que ele terminou. Portanto, quem for assistir, sugiro que leve um bucado de lenço de papel, porque será necessário.
Foto Piaf: Maurice Seymour
Sobre o filme: http://www.edithpiaf.com.br/
Clipes de Edith Piaf:
- Non, je ne regrette rien : http://www.youtube.com/watch?v=i_QABS88nDc

- La vie em rose: http://www.youtube.com/watch?v=2-sUzR71wpQ

Site onde tem um monte de músicas dela, com letras e muitas fotos: http://www.bibi-piaf.com/

que belas Tapas!


O tempo sem atualizar é longo, mas vou retomando aos poucos os textos do que andei vendo e lendo nos últimos tempos. Vamos a sexta-feira, dia 12 de outubro, fui ao Cine Brasília assistir a Mostra de Cinema Espanhol. Sem saber nada sobre o filme, fui confiante de que veria algo legal. Acredito nos filmes espanhóis! Acho que é a minha paixão almodovariana. Lá chegando vi que o nome do filme era Tapas, uma comida típica da culinária espanhola. São pequenas porções de diversos pratos que servem como entrada ou aperitivo.*(saiba mais no fim do texto) Enfim, o filme, de José Corbacho e Juan Cruz, feito em 2005, é realmente como tapas, não aqueles que a gente leva e doem pra caramba, mas sim, como a comida, leve e saborosa. Ele conta cinco histórias de pessoas unidas pela rotina em um bairro de Barcelona, Hospitalet de Llobregat, o bairro no qual realmente cresceram os diretores do filme (inclusive vi em um desse sites de internet que volta e meia a mãe de José Corbacho descia de sua casa durante as filmagens para chamar o filho para almoçar).
Vamos ao básico das personagens: Dona Conchi é uma senhora idosa lidando com o câncer terminal do marido Mariano, que por sinal, está meio confuso com essa história de morrer. Opo e César trabalham no supermercado e são dois jovens cheios de energia, principalmente sexual. Raquel é a dona da mercearia, que depois de abandonada pelo marido, começa a namorar pela internet com um cara em Buenos Aires. Manolo é um bicho bruto pra caramba que é dono do bar e acaba sendo largado pela mulher, claro, por ser um cara “gentil” demais. Mao, é um cozinheiro de Hong-kong, muito do comédia que vai trabalhar com Manolo depois do abandono da mulher. E assim, as histórias se encontram e desencontram ao longo da trama que trata de temas pesados de uma maneira bem sutil. Ah, vale dizer que ele levou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Montreal, realizado no Canadá.
O filme é como uma crônica, dessas bem boas que a gente não consegue parar de ler enquanto não acaba. Sabe aquela sensação que a gente tem quando “se joga” em um sofazão daqueles bem grandes e fofos e não quer sair dali nunca mais? Pois é, foi isso que eu senti ao assistir o filme. Não sei se é porque eu de fato estava sentada na cadeira maravilhosa do Cine Brasília, com toda aquela imensidão, o espaço para bunda, pras pernas, sem nenhuma cabeça na frente... Viva o Cine Brasília! Eu amo aquele cinema. Uma pena que os outros como ele que existiam na cidade tenham virado igrejas. É isso. Não sei se posso dizer “assistam” porque não sei se o filme é fácil de encontrar. Mas se souberem onde arrumar, vale a pena. Talvez tenha em locadoras “cults”, não sei.

*Tapas - O conceito das ‘tapas’ antes da refeição é uma das mais importantes contribuições espanholas para o mundo da gastronomia. A ‘tapa’ é uma peça de comida pequena e leve que os espanhóis consomem antes do almoço ou do jantar, sempre com um copo de vinho ou uma cerveja. O costume das ‘tapas’ permite a ingestão de diversos copos de vinho ou cervejas antes das refeições, escondendo o apetite (tapa el hambre - tapa a fome). A ‘tapa’ pode ser apresentada de diversos modos: como um mini-prato de uma receita tradicional, como um canapé, etc... (fonte: http://www.spain-grancanaria.com/p/spanish-food.html)
Saiba mais sobre tapas e ainda confira algumas receitas no link:
http://www.guiadasemana.com.br/noticias.asp?ID=2&cd_news=2285

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

mundo dos mortos


— Boa tarde, vocês têm um livro chamado Pedro Páramo do autor Juan Rulfo?
— Perae, vou ver. Fulano, tem algum livro do Pedro Páramo?
— Não moço, o nome do livro é Pedro Páramo, o autor é Juan Rulfo.
— Ah tá. Vou ver no sistema. Hummm, to vendo aqui mesmo Pedro Parâmo e o Planalto em chamas...
— Tem?
— Não.

E assim foi a minha romaria pela 26ª Feira do Livro de Brasília atrás do livro que o Thiaguinho havia mandado os olivroestasobreamesistas lerem. Fui a todas as barracas da Feira, menos nas que vendiam publicações para estudantes de concurso público e naquelas de literatura evangélica. Depois disso parti para ajuda matrimonial:
— ‘more, pega o Pedro Páramo na Biblioteca do Ceub pra mim?
— No sistema diz que tem, mas não achei nas prateleiras. Tem uns 200 exemplares em espanhol, serve?
— Não. Pega na Biblioteca da UnB então?
— Na UnB só tem um exemplar em português e está emprestado. Tem em espanhol. Serve?
— Não.

Quando a esperança já havia acabado e o desespero tomado conta, uma das 550 encomendas que eu tinha feito nas livrarias da cidade deu certo. A Livraria da Rodoviária me ligou para ir buscá-lo e fui como se fosse um prêmio. Saí da loja abraçada com o meu suado exemplar. Já nas primeiras páginas eu pirei com o livro. Tive que pegar um lápis e um papel para montar um esquema para ver se entendia tudo direitinho.
Ele começa com o narrador, Juan Preciado, indo à cidade de Comala, estado de Guadalajara, México. A viagem era por causa de uma promessa feita à mãe (Dona Doloritas) de que iria conhecer o pai — Pedro Páramo — depois que ela morresse. Segundo ela “... exija o que é nosso. O que tinha a obrigação de me dar e nunca me deu... O esquecimento em que nos manteve, meu filho, cobre caro.”
No caminho, Juan encontra o arrieiro Abúndio e conversando descobre que Pedro Páramo também é pai de Abúndio. Quando ele pergunta como é o pai, a definição vem seca: “um rancor vivo”. Depois de mais umas linhas de prosa, Juan fica sabendo que o pai está morto há anos. A partir desse momento, vários personagens começam a aparecer na história, cada um contando sua história e de repente eu tomava o choque — eles estavam mortos. Daí um pouco estava me perguntando se tinha alguém vivo no livro.
A resposta era clara — NÃO. Comala era uma cidade morta. Uma espécie de purgatório onde os cidadãos estavam pagando seus pecados. A cidade era tão quente, tão quente, que o próprio Abúndio comenta com o Juan: “Aquilo está sobre as brasas da terra, na própria boca do inferno. E posso até te dizer que muitos dos que morrem por lá, ao chegarem ao inferno, voltam pra buscar o cobertor.”
O livro é um exercício de concentração brilhante, porque sem separação por capítulos, ele se alterna na história de Juan Preciado em Comala e na vida de Pedro Páramo, desde a infância. Lá pela metade existe uma polêmica - descobre-se que o narrador, Juan Preciado também está morto e conta a história de dentro de uma cova onde está enterrado junto com uma mulher, considerada a louca da cidade, Dorotea. Para mim é isso que acontece. Ele está morto desde o começo e na metade do livro é quando ele se toca disso. Mas alguns defendem que ele foi para Comala, não suportou o clima de alma penada da cidade e morreu de medo lá mesmo. Eu acredito que a alma dele está lá para pagar a penação da mãe dele. Era dela o destino de passar a eternidade vagando como mais uma das almas penadas da cidade que abandonou na juventude. A interpretação fica em aberto para cada leitor decidir.
Enfim, em determinado momento eu parei de ler o livro porque não queria que ele acabasse. Tentei aproveitar o máximo possível das poucas 103 páginas. Fui absorvendo cada palavra com todo cuidado. Senti as sensações mais diferentes lendo a história de cada um dos personagens. Culpa, nojo, calor, fedor, até pesadelos tive com o livro.
A
conclusão disso tudo é: obrigada Thiaguinho por me fazer ler esse livro. Juan Rulfo é um autor super reconhecido e depois de ler Pedro Páramo, dou toda razão ao mundo por reconhecê-lo como um grande escritor. Ele simplesmente influenciou um dos melhores escritores do mundo — Gabriel García Márquez. E, de fato, comparando a literatura dos dois, Gabo tem muito de Rulfo. Ele conta que havia chegado ao México em 1961 e não sabia da existência de Rulfo. Um dia o também colombiano Álvaro Mutis lhe dá um livro e lhe ordena que leia, “para aprender”. Era Pedro Páramo. Não conseguiu dormir enquanto não terminou de ler pela segunda vez o livro. “Nunca, desde a noite tremenda em que li Metamorfose, de Kafka, numa pensão de estudantes lúgubre de Bogotá — quase dez anos atrás —”, relata García Márquez, “tinha sofrido comoção semelhante”. Passou o resto do ano sem ler outro autor, porque qualquer outro lhe parecia menor. (trecho retirado do ensaio de Paulo Paniago, meu próprio marido, baseado no texto Breves nostalgias sobre Juan Rulfo, de Gabriel García Márquez).
Agora é esperar o filme que está por vir. A produtora mexicana Canana está adaptando a história para o cinema com a direção do espanhol Mateo Gil e com o ator Gael García Bernal no papel de Pedro Páramo. Não sei como eles vão conseguir transformar em imagens tudo o que eu li, mas eu estou muito curiosa.
Foto de Juan Rulfo: Lola Álvarez Bravo

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

o fim de Bourne

Dessa vez vim falar de um tipo de filme que só vou ao cinema assistir por causa da existência do meu marido (ele adora). Engraçado, não que eu não goste, na hora eu até gosto, mas não é algo que me faz sair de casa e gastar a fortuna do bilhete. Em um sábado desses, fomos ver O Ultimato Bourne. O último da trilogia Bourne, o filme finalmente mostra ao telespectador e a Jason Bourne (Matt Damon) quem é o personagem e o que aconteceu com ele. A história, baseada nos livros do escritor Robert Ludlum, começa na Identidade Bourne, passa pela Supremacia Bourne e agora termina com o Ultimato. O negócio é o seguinte: o Departamento de Defesa dos Estados Unidos pega um jovem, novo, com potencial e com vontade de defender a pátria e faz um treinamento brutal nele para que ele se torne um matador profissional, sem memória, sem vida, sem questionamentos. Ele simplesmente recebe ordens e mata, e muito bem por sinal, os caras são bons pra caramba. Mas enfim, Jason Bourne, no primeiro filme, na hora que vai matar um cara, olha para a criatura e não consegue fazê-lo, a partir daí ele começa a ter uma crise de identidade, a questionar, quem é ele, porque ele faz aquilo, o que o cara fez pra merecer morrer. Enfim, cai um pouco da Teoria da Caverna de Platão. Mas a partir do momento em que o objeto do governo americano começa a usar o cérebro, ele precisa ser eliminado, claro, eles não podem pensar de jeito nenhum. Mas então, desde o primeiro até o último filme a CIA persegue o rapaz incansavelmente. Aí que entra uma das partes cruciais do filme, muita ação, muita mesmo (talvez isso que agrade o meu marido). Bourne é tão inteligente e irônico que me fez pensar: quem é melhor, Bourne ou 007? Os fãs do agente secreto devem estar querendo me matar depois de uma pergunta dessas. Mas, poxa, o 007 tem um monte de apoio, carros, tecnologias, armas, cinto de utilidades, sabe. E o Bourne, coitadinho, faz uma destruição na CIA só com um celular e uma arma aqui ou ali que ele rouba de alguém que matou com as mãos. E olha que ele nem usa o charme para se dar bem, como é o caso do 007. Ele tem charme, mas está muito preocupado com quem é ele pra ficar espalhando por aí a beleza de seus olhos.
O mais interessante do filme pra mim é observar a atuação do Matt Damon, no começo da carreira dele, eu não botava muita fé. Mas hoje em dia eu gosto cada vez mais. A carinha de bom moço dele é ótima para fazer esse tipo de papel. Apesar dessas estatuetas não significarem muito pra mim, vale dizer que ele ganhou um Oscar protagonizando o herói desmemoriado.
Enfim, quem gosta de ação, e que, principalmente, assistiu os outros dois e gostou, vá assistir. Ele é a continuação da história e é bom ver o fim das coisas. Mas quem não gostou, não perca tempo, a linha é a mesma e você não se surpreenderá.

Sobre o autor
Robert Ludlum nasceu em Nova York em 1927. Foi ator e produtor de teatro por muitos anos e, já na primeira experiência literária, se tornou escritor de best-seller – A herança Scarlatti (1971). Chegado em muita ação, violência e em um herói, meio imortal, que mata todo mundo e luta contra as adversidades do mundo, ele ficou bem famoso com seus romances de espionagem. Faleceu em 2001.

Trailer do filme
http://br.youtube.com/watch?v=yawbyVSboWA

domingo, 9 de setembro de 2007

e muito da inconveniente...


O primeiro filme do momento “blog de ser” é o documentário Uma verdade inconveniente, de certa forma, protagonizado pelo “ex-futuro” presidente dos Estados Unidos, Al Gore. Há muito tempo escuto falar do filme, mas ele sempre ficava atrás na lista dos que queria assistir. Até que essa semana o DVD foi colocado na minha mesa pelo meu amigo Pedro. Olhei pra ele, e não dava mais pra fugir.
O documentário, dirigido por Davis Guggenheim, que é mais conhecido pelo trabalho na série 24 horas, é na verdade uma palestra muito bem estruturada sobre a degradação da natureza feita pela quantidade do dióxido de carbono preso na atmosfera e as causas e conseqüências do aquecimento global. O filme é resultado de um trabalho que Gore faz desde 1978. Ele explica de forma bem didática o aquecimento global e responde com dados a todos os questionamentos e críticas que surgem quando o tema está em pauta.
O meio-ambiente, de fato, é a coisa mais importante do filme, mas com ele também dá para ter uma noção biográfica do político, como a história do filho que quase morreu atropelado e a irmã que faleceu de câncer no pulmão, fumando o tabaco que a família de Gore plantava. Enfim, ele mostra que se as coisas não mudarem rapidamente, o bicho vai pegar. As fotos de como eram as calotas polares antes e como estão agora, me fez pensar na Holanda (que é um dos países abaixo do nível do mar). Tadinhos, acho que eles serão os primeiros... E, na sequência, vamos todos nós. Pior, toda essa mudança climática resulta numa constância de furacões, enchentes, seca, praga de insetos e epidemias. Para aqueles que já não tem muita certeza se vão distribuir rebentos por esse mundo, o filme é um grande incentivador para que isso não aconteça mesmo.
O filme é assustador, mas recomendo. E depois de assisti-lo, veja também Os Simpons, que da forma comédia e crítica deles, claro, tratam do tema ambiental e satirizam Uma verdade inconveniente.

Para informações sobre o que você pode fazer para ajudar a melhorar o mundo:
www.climatecrisis.net

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Post de apresentação

Há tempos observo esse crescimento acelerado dos blogs (enquanto você leu essa frase, dois foram criados no mundo) e já analisei o processo de várias maneiras. Passei por uma fase de rejeição e ojeriza a esse desenvolvimento, depois (por causa da Silvinha) veio um encantamento com o modelo de comunicação e, rapidamente, tudo se transformou em uma vontade de também ter um blog (sim, eu sou uma “maria vai com as outras”). Enfim, só que eu não queria ter um blog para ser um diário, para analisar a conversa do padeiro, o sistema de transporte público ou a manchete da Folha de S.Paulo. Nada contra esse tipo de blog, eu só não me identifico muito. Então eu precisava de um motivo forte e apaixonante que me fizesse criar um espaço virtual e atualizá-lo diariamente (ou não).
Esse motivo veio. Com toda a minha "onda mestranda" entrarei a partir de agora em um processo de análises de livros e filmes. Na verdade já faço isso há um tempo, mas sempre de forma oral, o que fica totalmente esquecido depois de duas latinhas de cerveja. Esse blog então será dedicado a isso, analisar filmes e livros. Não será uma coisa acadêmica, porque seria um saco, mas ele servirá para eu treinar o “colocar no papel” as minhas impressões sobre essas duas coisas que gosto tanto. Ou seja, vou me aproveitar dele para aprofundar as pesquisas que pretendo fazer e ele servirá também como um histórico das coisas que li e vi por aí.
Essas são as vantagens para mim, agora, quais são as vantagens para possíveis leitores? Não sei, pode servir como dicas de leituras e filmes, pode ser um espaço para debater sobre os temas, para discordar das minhas análises. Ou seja, leitor, faça dele o que quiser, sinta-se em casa e bem-vindo.